MEMÓRIAS SOLTAS
Nessa altura
de jovem esbelta, percorria as ruas de Lagos e sentia muita liberdade ao
percorrê-las a pé ou de bicicleta. Ruas limpas de casas caiadas de branco com
janelas debruadas a amarelo ou azul e com grandes açoteias. Lembro-me dos dias
de verão, intermináveis, nesse tempo, em que tudo vinha longe e de esperar pela
manhã madrugadora para ir à doca ao peixe. Atravessava a pequena cidade, de
canastra na mão, senhora da minha meninice e do recado que a minha mãe me
mandava fazer. Quando chegava ao meu destino dizia Bom dia, vim buscar o peixe,
e uma senhora pequenina com um avental maior do que ela, fazia – me entrar numa
embarcação, também pequena, onde tudo rugia, pintada também de branco e azul
com que a senhora me enchia a canasta com o peixe recomendado. Pronto, agora
tem cuidado, não deixes cair a canasta, dizia-me ela tapando o peixe com uma
linda toalha de linho, também ela branca e azul. Eu dizia que sim com a cabeça,
e tomava o caminho de regresso a casa, que tinha agora o cheiro do Algarve a
amanhecer e que nunca adormece na minha alma.
Comentários
Postar um comentário