Memórias soltas

 

Faz por estes dias trinta anos que entrei na Faculdade. Vinte anos. Por um lado, parece que foi ontem. Por outro, já foi há tanto tempo.

Lembro me do meu pai, ao fundo daquela calçada, em Coimbra, que me levava à Faculdade, dizer me no dia que me deixou (sozinhos os dois):

Filha, se tudo correr bem, não voltas mais para casa. Não tenhas medo. Eu vou ficar muito orgulhoso se isso acontecer.

Naquele dia, não consegui interpretar tudo o que estava ali. Nem tão pouco quereria ouvir aquilo. Também sei que se a minha mãe estivesse lá, teria revirado os olhos. Todos queríamos o voo, mas sem sair do ninho.

O meu pai sempre me disse as coisas certas no momento certo. Tenho várias passagens destas que vão ecoar cá dentro para o resto da vida.

Soube mais tarde, tudo o que estava guardado naquilo que ele me disse. Repito o, algumas vezes, não aos adolescentes que entram, mas aos pais que têm que deixar ir.

Estudar fora, sair de casa é talvez uma licenciatura a mais que se tira. Essa não menos importante: um conjunto de ferramentas que acontecem com as dores de barriga que acompanham esse movimento. A outra, aquela com que sonhamos, é também isso mesmo: um desejo de aprender e crescer. Hoje não enceta um passaporte absoluto para o emprego x...mas quero acreditar que para quem quiser, acrescenta, amplia, e leva nos a percorrer um caminho. Um caminho de pessoas, de encontros, de namoros, de dores, de aprendizagens, mas sobretudo um caminho de conhecimento.

Que assim seja para os novos caloiros.

E eu que continue a crescer com eles.

 


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